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sexta-feira, 19 de março de 2021

O Rei Leão - Peças Perdidas - Capítulo 8

...


Era uma vez, não há muito tempo, numa floresta não muito longe das Terras do Reino, um pequeno mandril.

Seu nome era Uzushi.

Esse pequeno mandril brincava e olhava para o mundo diferente de qualquer outro animal.


O mundo parecia ser mais colorido, mais interessante para Uzushi.

O pequeno primata ficava horas distraído com coisas simples como formigas e outros insetos.

As plantas, os animais, a água, o céu, tudo o intrigava. Ele sentia-se fascinado por coisas que para alguns, eram banais.

E bem... foi assim que ele recebeu seu nome, Uzushi, mandril louco.

O pequeno não entendia a razão de ter aquele nome, na verdade, ele nem sabia direito o que ele queria dizer, mas em breve ele descobriria.


Uzushi nasceu na Floresta Mateso, um lugar cruel e impiedoso, onde só os mais fortes sobrevivem e bem, podemos dizer que Uzushi não se adaptou e seus pais, fazendo jus aos costumes de Mateso, tiveram de expulsar o pequeno, disseram que aquele não era seu lugar. 


O filhote inteligente, porém ingênuo não entendeu o motivo, tentou questionar mas seus pais acabaram dando as costas para ele.

Uzushi não sabia o que fazer nem para onde ir, mas os habitantes dali mostraram para ele que aquele não era seu lugar e o forçaram a sair de sua floresta com pedras, gritos e insultos que nenhum filhote merecia ouvir, mas bem, ele estava em Mateso.


Talvez você, meu caro ouvinte, esteja se perguntando: já que Mateso é um lugar tão horrível assim, por que os animais simplesmente não saem de lá?

Bem, essa é mais uma das muitas maravilhas de Mateso. A floresta é um labirinto completo, daqueles que você não sabe onde começa e nem onde termina. Quem nasce lá, costuma morrer por lá.

Mas Uzushi não tinha escolha, teria de enfrentar Mateso. Um pequeno mandril, contra uma floresta de espinhos e rochas enormes, repleta de animais famintos.


Por dias Uzushi vagou sem rumo algum, em meio aqueles aterrorizantes espinhos que não permitiam a entrada de luz naquele lugar. A floresta havia deixado suas marcas em Uzushi e o pequeno filhote possuía diversas feridas abertas em sua pele. A fome começava a castigá-lo e apenas os pequenos insetos não conseguiam mais saciar o primata.

Foi então que o pobre animal se jogou no chão e desistiu de lutar, ele sabia que em breve seu fim chegaria, de uma forma ou de outra.

Deitado ali, ele apenas esperava que outro animal ou a própria fome colocasse um ponto final naquele sofrimento... que ironia.


O pequeno primata olhou para os lados e avistou um buraco. "Porque não entrar ali e apenas dormir para nunca mais acordar?" O filhote perguntou-se.

Procurando por outras opções, o mandril desviou seu olhar para o outro lado, e avistou algumas velhas conhecidas, as formigas. Vendo os pequenos insetos, Uzushi acabou por se lembrar de quando ainda tinha uma família, mas com isso também veio a raiva.


— Isso é tudo culpa de vocês! - esbravejou Uzushi disparando socos contra as pequeninas.


Após uma luta muito injusta e unilateral, Uzushi se cansou e se jogou novamente no lugar em que estava deitado antes.

As formigas por sua vez continuaram seu trabalho.


Uzushi sentiu uma forte dor de cabeça, algo estava para acontecer e ele sabia disso. O fim daquele sofrimento talvez?

O primata não queria pensar, inconscientemente apenas voltou a olhar para os pequenos insetos e podemos dizer que eles foram sua salvação, ou talvez não.

Enquanto observava a trilha que as formigas formavam, um feixe de luz atingiu seus olhos.


— Uma saída! - disse ele.


Um pequeno túnel formado em uma rocha pelo qual as formigas atravessavam. O túnel era pequeno, mas tinha o tamanho suficiente para que, com algum esforço, ele escapasse.

No momento em que se levantou, uma voz produziu um calafrio no animal.


— Onde pensa que vai pequenino? - disse um leopardo que espreitava o primata já há algum tempo.


O pequeno correu e se esforçou ao máximo para subir em um espinheiro.


— Não precisa ter medo, você parece cansado, o que acha de descansar um pouquinho? - falou o animal num tom maligno enquanto lambia o sangue do primata que havia escorrido pelos espinhos.


— Me deixe em paz - o pequeno gritou apesar de estar fraco.


— Já que você não quer descer, eu posso esperar - falou o leopardo se deitando e observando atentamente a qualquer movimento do filhote.


Se passaram horas e o Leopardo não se retirou dali, apenas adormeceu.

Uzushi por outro lado, continuava ofegante, assustado e tentando pensar em uma saída daquela cilada.

A cabeça do pequeno fervilhava enquanto ele se esforçava para ter alguma idéia, até que novamente as lembranças de sua família voltaram para perturbá-lo. Lembrou de sua mãe cuidando para que ele não saísse de perto, de seu pai o protegendo... “Espere um pouco…” o filhote pensou. Seu pai era o responsável pela proteção da família e ele tinha um instrumento, algo parecido com um cajado...


— Essa é a solução! - gritou o pequenino, esquecendo que seu inimigo estava bem ali.


— Já chega! - exclamou o leopardo despertando - Você vai sair daí de um jeito ou de outro! - O animal enfurecido começou a balançar o espinheiro.


Era impossível ficar lá em cima, era como tentar se equilibrar em uma corda bamba em meio a um terremoto. Uzushi tinha de colocar seu plano em prática agora.

O filhote quebrou o galho mais grosso do espinheiro que conseguiu, se pôs em posição de ataque, empunhou sua "lança" e pulou com ela em cima do leopardo.


O pequeno se chocou contra o chão e tudo escureceu. Ele havia desmaiado. Após recobrar os sentidos, Uzushi se levantou e não acreditou no que viu, ele havia derrotado o leopardo, sua "lança" havia atravessado uma costela do animal em um golpe letal.


O filhote não ficou ali por muito tempo. Com o pouco de energia que havia lhe restado, Uzushi se esgueirou até a passagem que as formigas haviam o mostrado e engatinhou até sua liberdade que... bem, foi uma verdadeira surpresa.


Assim que saiu daquele labirinto que conhecia como lar, o chão sumiu, Uzushi despencou morro abaixo e acabou caindo no chão, mas dessa vez sem energia e nem vontade para levantar. A vida havia golpeado o mandril novamente e dessa vez ele havia se entregado. Em pouco tempo os abutres chegaram, seria esse o fim de Uzushi?


Talvez fosse... mas não é aqui que essa história termina.


De repente Uzushi foi acordado por um cheiro familiar, teria a sua família vindo o resgatar? Reunindo coragem para abrir os olhos, um reflexo azul ofusca sua visão.

Curioso, ele rapidamente se força a se levantar mas é gentilmente impedido pelas mãos de outro animal.


— Aclame-se filhote, você está seguro agora, beba isso - o ser misterioso o disse.


Agora ele conseguia vê-lo, era outro mandril, de pelo pálido e azulado, com uma barba marrom contornando seu rosto, além das cores vibrantes no seu rosto e também tinha… uma cauda? Mas que tipo de mandril tem cauda? Pensou Uzushi.

Ele o oferecia um coco partido com algum tipo de líquido dentro. Ingênuo e curioso o pequeno pegou o recipiente e observou o líquido que havia ali dentro.

Era estranho, ralo e amarelo, mas Uzushi estava morrendo de sede.

Após se "deliciar" com a bebida, Uzushi começou a responder a enxurrada de perguntas do mandril adulto. Claro que muitas delas ficaram sem resposta, afinal, Uzushi era pouco mais que um filhote. Após o interrogatório o primata mais velho finalmente se apresentou: — Eu me chamo Rafiki pequeno, e vou cuidar de você - falou segurando a mão do pequenino e se pondo a andar.


(...)


Várias estações se passaram e o pequeno filhote de mandril, tornou-se um animal grande e saudável. Logo após ter adotado Uzushi como seu aprendiz, o jovem Rafiki notou que ele havia herdado muitas coisas de Mateso. Mas decidiu tentar ajudá-lo a se libertar daquela personalidade e com o tempo, notou o potencial do jovem para sucedê-lo e o iniciou nos caminhos dos Mjuzi Reais.

No começo, Uzushi não entendeu o propósito daquele serviço. Por que ele deveria ajudar animais que simplesmente eram seus inimigos por natureza?

Foi então que Rafiki apresentou ao jovem o Ciclo da Vida.

O primata mais novo ouviu, pensou, perguntou e questionou. Nem tudo sobre esse tal Ciclo da Vida fazia sentido para ele, até porque, no lugar de onde ele vinha não existia nada disso.

"Mas talvez fizesse sentido", raciocinou o primata, afinal aquele lugar funcionava bem melhor do que sua velha casa e foi Rafiki quem o resgatou, então era melhor não discordar.

A cada dia Uzushi aprendia mais com Rafiki e adquiria mais conhecimento, em breve, Rafiki poderia finalmente descansar sabendo que teria alguém capaz de lhe suceder. 

Porém ainda restavam traços de Mateso no mandril e isso fez com que, enquanto crescia, ele estivesse sempre se metendo em encrencas, porém Rafiki foi paciente, e vez após vez, o ajudou a aprender com seus erros. 

Com o tempo Uzushi até criou algumas amizades, entre elas estava Scar, que na época se chamava Askari, homenageando o líder da primeira Guarda do Leão. Mas nem todos animais confiavam no mandril, e Rascal, o leão de melhor visão da Guarda do Leão, estava sempre de olho no mandril e logo criou um forte preconceito por ele.


Apesar de tudo, Uzushi se manteve lutando contra sua personalidade e seus instintos "selvagens" fazendo tudo o que podia para agradar Rafiki, que havia se tornado como um pai para o mandril.

Após muito esforço parecia que não havia mais nenhum vestígio de Mateso em sua personalidade, e Rafiki, a fim de comprovar isso, decidiu dar uma tarefa a Uzushi. Quando Rafiki o levou para conhecer as Terras Profundas, Uzushi não havia se dado muito bem cercado pelas zebras ultra animadas dali.

Então para comprovar o progresso de seu aprendiz, Rafiki o mandou buscar algumas ervas nas Terras Profundas. Uzushi aceitou prontamente, afinal ele aproveitava toda oportunidade que tinha para provar seu valor a Rafiki, e assim partiu em busca das plantas.


No caminho, Rascal avistou o mandril e como de costume, decidiu segui-lo a distância para descobrir o que ele estava "aprontando".

O mandril continuava sua caminhada animada sem qualquer suspeita de que era seguido. Em pouco tempo, Uzushi chegou ao destino e infelizmente foi recebido muito calorosamente pelas zebras que se aproximavam saltitantes. Uzushi se esforçou para ignorar a algazarra e a proximidade das zebras, foi então que ele notou que as ervas estavam bem a sua frente. No momento em que se abaixou, um filhote de zebra se aproximou.


— Você não quer brincar com a gente? - falou a pequena com seu melhor sorriso.


— Não, obrigado - falou o mandril tentando manter a calma.


Enquanto se colocava a andar para sair daquele lugar o mais rápido possível antes que explodisse, a zebra se aproximou novamente de Uzushi, dessa vez mais próxima ainda.


— Por que não? - disse a zebra pulando e derrubando as ervas que estavam na mão de Uzushi acidentalmente - opa.


— Porque não! - falou Uzushi bufando e recolhendo novamente as ervas do chão.


- Por favooor… - dizia a zebra se atirando em cima de Uzushi.


Num movimento instintivo, Uzushi usou seu cajado para impedir que a zebra o atingisse e a jogou contra o chão. A pequena acabou se machucando e fugiu chorando para a floresta. As zebras que estavam em volta correram assustadas junto com ela.

Uzushi ficou por alguns segundos espantado com sua reação e sentiu um calafrio rastejando por sua espinha, mas decidiu sair daquele lugar o mais rápido possível.

O que ele não sabia é que não haviam sido apenas as zebras que viram aquela cena, Rascal também estava à espreita, mas não só ele, um ratel também havia visto o que tinha acontecido e se aproximou de Uzushi.


— Você deu um jeito naquelas zebras hein? - falou o ratel tentando acompanhar o ritmo de Uzushi - eu não aguentava mais aquele "brincar e pular, brincar pular" - falou o animal imitando as listradas.


Uzushi o ignorou e continuou andando, mas o ratel continuou o seguindo.


— Ei cara, eu tô falando com você - disse o ratel tentando chamar a atenção do primata.


O mandril apenas permaneceu calado.


— Vai me dizer que você tá com medinho de umas zebras? - questionou o texugo do mel.


— Me deixe em paz - falou Uzushi.


— Eu sabia, você não passa de covarde que se deixou levar pela emoção.


— O que você disse? - questionou Uzushi com a raiva lhe tomando a noção.


— Além de medroso você é surdo - disse o ratel num tom displicente - você não passa de um covarde!


Nesse momento o semblante de Uzushi inflamou e o primata perdeu completamente o controle.


— Vamos ver quem é o covarde então - falou Uzushi empunhando o cajado pontiagudo e preparando-se para atirá-lo contra o ratel.


Quando o mandril já lançava o cajado, Rascal pulou contra Uzushi impedindo que ele acertasse o ratel, que saiu correndo. Em seguida, Rascal partiu o cajado de Uzushi.


— Você deve ter ficado louco - falou o membro da Guarda.


— Ele quem começou - disse o mandril se recompondo.


— Típico Uzushi, típico - retrucou o leão - vamos o que Rafiki vai achar disso - falou o leão antes de sair em direção ao Baobá do mandril mais velho.


Uzushi apenas olhou para o rastro de poeira que o leão deixou para trás. Não tentou impedi-lo. Ele sabia que estava errado, mas também sabia que não era o único culpado.

O mandril se sentou desolado, e com uma decisão a tomar: aceitar a culpa e tentar recuperar novamente a confiança do mestre que havia se tornado como um pai para ele, ou deixar que a raiva, o ódio e a vingança o dominassem. Não sabemos ao certo o porquê, mas a verdade é que todos nós decidimos o que iremos nos tornar por meio de nossas escolhas, e Uzushi, talvez influenciado por sua criação, seus traumas ou sua origem, decidiu alimentar o ódio e a vingança que havia dentro de si.

O mandril teve de lidar com a dor de ver seu instrutor, Rafiki, nunca mais olhá-lo da mesma forma e quando pensamos que as coisas não podem piorar, elas pioram.


Numa bela manhã, um casal de primatas apresentou a Rafiki um filhote, seu nome era Makini.

Todo o ódio que Uzushi havia acumulado fez com que sua mente criasse a fantasia de que Rafiki estava a procura de alguém para substituí-lo.

Essa foi a gota d'água. Estava na hora de colocar em prática seu plano de vingança.


Certa noite, Uzushi invadiu a árvore na qual o casal de mandris estava e sequestrou a filhote.

Uzushi levou a pequena até as Terras Sombrias. Porém como de costume, Rascal o vigiava. Quando chegou lá, Uzushi apenas parou com a mandril em seus braços e esperou. Em pouco tempo, Rascal chegou ao local.


— Você nunca vai aprender não é? - perguntou o leão — Não sei como Ahadi ainda não o exilou.


— E você nunca vai deixar de ser enxerido? - respondeu o mandril. 


Rascal correu até Uzushi para salvar a filhote, mas o que ele não sabia era que estava prestes a cair em uma armadilha. Ao passar por uma pilha de folhas, o chão cedeu abaixo do leão que caiu em um buraco.


— Você não é tão esperto assim — falou o mandril.


— O que acha que está fazendo? - perguntou Rascal.


— Você verá - disse o mandril se afastando e deixando Makini de lado.


Em pouco tempo, Uzushi voltou com um galho em chamas na mão.


— Não faça isso Uzushi! - o leão ordenou.


— Não devia ter me seguido Rascal - disse o mandril jogando o galho dentro do buraco.


— Seu louco!


Em poucos instantes as chamas inundaram o buraco onde o leão estava e Rascal deu seu último rugido.

Por alguns instantes Uzushi continuou observando o buraco em chamas, como se algum pingo de sanidade gritasse dentro de sua mente, mas novamente o ódio o dominou, fazendo com que ele voltasse o olhar para a filhote.


— Acho que você não deveria ter visto isso - disse Uzushi para a pequena mandril - você até que é uma filhote bonitinha, é uma pena...


Assim que terminou de falar, Uzushi pegou a mandril nos braços e se preparou para jogá-la no buraco em chamas, mas antes que a soltasse, uma voz o impediu.


— Não faça isso! - gritou Rafiki se aproximando do aprendiz - não precisa ser assim Uzushi.


— Você me substituiu Rafiki! Por que eu deveria te ouvir?


— Eu não te substitui rapaz, você ainda é meu aprendiz, pare com isso e nós vamos curá-lo desse mal.


— Eu não preciso ser curado! - falou o primata ameaçando atirar a filhote.


— Apenas deixe a filhote em paz garoto, ela não fez nada - disse Rafiki tentando acalmar Uzushi.


Uzushi refletiu por alguns segundos.


— Você está certo, não é culpa dela, é culpa sua! - vociferou Uzushi deixando a filhote de lado e partindo contra Rafiki.


Rafiki se recusava a lutar contra o seu aprendiz, e Uzushi obstinado pelo ódio, partiu para cima do mandril mais velho armado apenas com suas mãos e dentes.

Em algum dos golpes Uzushi derrubou Rafiki, e o mandril mais velho foi obrigado a se defender e acabou ferindo o ombro de seu aprendiz, acidentalmente perfurando-o com seu cajado.

O jovem caiu contra o chão e observou Rafiki correr até Makini.


— Você deveria ter me deixado morrer! - gritou Uzushi em meio a raiva, a dor e ao choro.


— Eu te salvei.


— Você me condenou! Eu preferia ter sido devorado pelos abutres.


As chamas se alastraram e acabaram criando uma barreira entre Rafiki e Uzushi.


— Eu te odeio! - gritou o mandril revoltado e com sua raiva podendo ser sentida em cada uma de suas palavras.


— Eu sinto muito Uzushi - respondeu Rafiki.


— Torça para que você não cruze meu caminho novamente Rafiki, apenas torça - disse Uzushi partindo em meio a escuridão daquela noite para o lado oposto de Rafiki.


Essa é a história do aprendiz de Rafiki, o mandril louco… A história de Uzushi.


...


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Continua...

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Eaí o que acharam do estilo um pouco diferente desse capítulo? Pegaram as referências? Espero que ele tenha clareado um pouco a história do Uzushi. Bem, eu não sei fazer notas finais muito bem, então eu acho que por hoje é só. 


Até a próxima!


NOTAS


- Uzushi significa louco, traição, desertor em Suaíli


- Mateso significa sofrimento em Suaíli

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Feat. Akili Lion

terça-feira, 2 de março de 2021

O Rei Leão - Peças Perdidas - Capítulo 7

...

Kasi corria em meio às pradarias. A brisa úmida da noite refrescava a leoa que "voava" rumo ao seu destino. A adrenalina que tomava seu ser fazia com que Kasi se sentisse invencível. Suas patas quase não encostavam no chão e a leoa se esforçava para ir cada vez mais rápido. A verdade é que a noite africana nem sempre é silenciosa, os animais noturnos se faziam ressoar naquela imensidão, mas Kasi não os ouvia, o único som que a leoa escutava era sua respiração e suas patas tocando o solo. Foi então que ela avistou seu destino, o baobá de Rafiki. A noite imperava e o baobá era iluminado apenas pela luz do luar e pelos vagalumes que rodeavam a árvore.

O mandril meditava imóvel sobre a copa de seu lar quando ouviu o chamado da leoa.


— Rafiki? 


O primata olhou entre as folhas da árvore e reconheceu a "mais veloz da Guarda do Leão".


— Kasi, o que faz vagando pelo reino essa hora? Procurando respostas?


— Sim - a leoa respondeu automaticamente - como você sabe?


— A noite é um ótimo momento para meditar em busca de respostas.


— Ah... - a leoa ficou pensativa.


— E o que te trás aqui Kasi?


— Eu e Imara encontramos algo nas fronteiras do reino e achei que você pudesse nós ajudar  - a leoa falou para o mandril que se apoiava em seu cajado observando-a atentamente - uma caverna. Ela tinha objetos parecidos com os seus, cocos partidos ao meio, alguns com líquidos estranhos dentro, até um cajado.


Rafiki pareceu pensativo. De repente o primata começou a andar deu lado para outro e sua face foi tomada pelo medo.


— N-não pode ser, ele não... com certeza não - falava o mandril andando de um lado para o outro.


— O que não pode ser? 


— Nada - respondeu Rafiki que subitamente subiu ao seu baobá em seguida.


Kasi olhou para a árvore e balançou a cabeça tentando entender a loucura do primata.


— Rafiki? Você... está bem? - a leoa perguntou e foi ignorada - Rafiki! - ela gritou novamente de maneira estridente.


O mandril desceu lentamente de sua árvore até encostar seus pés no chão.


— O que não pode ser Rafiki? - a leoa perguntou tentando acalmar o mandril.


— O perigo não acabou Kasi - falou o primata com a voz ainda trêmula - o leão que vocês expulsaram hoje, não é o nosso único inimigo.


— Como assim?


— Avise Vitani e Kopa! Ele está voltando, ele vai querer vingança!


— Quem vai querer se vin... - a leoa começou a dizer mas o mandril escalou novamente o seu baobá - Rafiiiiki! - Kasi gritou novamente mas sem resposta do mandril desta vez.


"Ah" bufou Kasi, "é verdade, nós não temos um minuto de paz" falou enquanto olhava ao seu redor e, vendo que Rafiki não desceria ao chão de novo, voltou a correr em direção a Pedra do Rei. "Tudo bem" a leoa começou a raciocinar consigo mesma, "Rafiki me disse que Fahari não é nosso único inimigo, certo, mas quem poderia ser o outro? Vamos Kasi, pensa. Rafiki também disse que esse outro inimigo vai  querer se vingar, se vingar de quem? Do Simba? De Rafiki?" Kasi não percebeu o quão rápido estava correndo até olhar para o lado e notar que já havia passado da Pedra do Rei. Antes de conseguir olhar para frente novamente, a leoa tropeçou em uma pequena rocha e após diversas cambalhotas,ela acabou caída olhando para o céu. "É melhor esperar até amanhã para contar para Vitani, ela vai saber o que fazer" disse a leoa antes de adormecer no mesmo local em que havia caído.


(...)


Aos poucos seus olhos foram se abrindo, enquanto o leão ainda despertava. Finalmente o moreno havia tido uma boa noite de sono, a Cúpula da Savana alterou todo seu sono, mas havia passado, o aperto no peito sumira e sua mente estava mais leve. A seu lado, Kiara ainda dormia, a leoa que literalmente o salvara na reunião. Agora que Fahari havia sido expulso e com a Cúpula da Savana já resolvida, as coisas seriam mais tranquilas.

Alguns dos leões da Pedra do Rei já estavam de pé, Simba, Nala, as três leoas da Guarda do Leão que haviam dormido alí, mas alguns ainda dormiam como Tiifu e Zuri. Kovu se levantou e com cuidado para não acordar às "belas-adormecidas", e caminhou para fora da caverna. A estação seca se tornava mais intensa com o passar dos dias e era possível ver isso ao ficar por alguns minutos no Sol ou por observar às fontes de água do reino secarem aos poucos.

O leão desceu da famosa pedra e se colocou a caminhar por seu futuro reino. Era interessante parar para pensar o quanto as coisas haviam mudado em tão pouco tempo. Num momento, Kovu se preparava para assassinar o rei deste, e seu sogro, Simba, agora o leão é o príncipe de "tudo o que o Sol toca" e tem uma família que realmente o ama.

Enquanto caminha, alguns dos moradores de seu futuro reino o cumprimentam. O moreno havia ficado preocupado se mesmo após o escândalo de Zira e sua expulsão das Terras do Reino os animais o aceitariam novamente, mas para a felicidade de Kovu, eles foram receptivos e com o tempo deixaram de teme-lo para respeita-lo.

O leão continuou caminhando até chegar a  uma colina. Ele gostava de se sentar ali e ficar apenas observando os animais vivendo suas vidas, ver o seu futuro reino funcionando.

Em meio aos muitos animais que comiam, bebiam, voavam, corriam e até fugiam, um deles, ou melhor uma, era inconfundível, Kiara. A leoa que fazia seus olhos brilharem e sua pupila dilatar, por quem seu coração batia mais rápido.

Mesmo estando casados a meses, a sensação de se encontrar com a princesa era sempre a mesma, e sempre era inigualável.


— Bom dia! - exclamou a leoa enquanto se aproximava do seu leão.


— Bom dia - o moreno respondeu - como você está?


— Bem, após tudo o que aconteceu ontem e nos últimos dias... eu finalmente consegui ter uma boa noite de sono.

— Nem me fale - concordou o leão - já estava cansado de ter pesadelos com a Cúpula da Savana - encerro rindo acompanhado da leoa.

— Kovu - falou Kiara quebrando o breve silêncio que havia se feito - tem uma coisa sobre a qual eu queria falar com você.

O leão olhou para o rosto dela dando atenção ao que a leoa tinha para lhe dizer.

— Já faz algum tempo que nós... - Kiara começou a falar antes de ser interrompida.

— Kovu, Kiara! - disse Kasi correndo até os dois - A Guarda está na Pedra do Rei?

— Bem, parte dela... - dizia Kiara.

— Como assim parte dela? Ocorreu algo?

— Não que eu saiba, - respondeu Kovu confuso - por que?

Kasi olhou para o horizonte enquanto se lembrava da urgência na voz de Rafiki, ainda distante, ela acrescentou:

— Nada de importante - a leoa decidiu não compartilhar sua visita a Rafiki com o casal, afinal, ela ainda nem tinha certeza do que preocupava o mandril - Kopa e Vitani estavam lá?

— Não... pelo que eu me lembro, só vi a Shabaha, Tazama e a Imara por lá - respondeu o príncipe.

— Ah... certo... obrigado pela ajuda, vou continuar procurando por eles.

Assim que terminou de falar, a leoa voltou a correr novamente.
Kovu e Kiara se entreolharam tentando entender a situação mas acabaram apenas dando de ombros.

(...)

Toda a Guarda do Leão, exceto Kasi, já estava pronta para a patrulha. Eles esperavam pela "mais rápida da Guarda do Leão" no covil, e por incrível que pudesse parecer, Kasi estava atrasada.

— Com certeza algo aconteceu - falou Vitani - Kasi nunca se atrasou nem sequer um minuto.

— Então, acho que vamos ter que procurá-la - respondeu Kopa.

Os quatro animais se juntaram e depois de gritarem seu grito de guerra, "até onde o reino se estende, a Guarda do Leão defende", saíram em busca de Kasi. Mas antes mesmo de saírem do covil, uma voz encerra a missão.

— Eu cheguei... - falou a leoa ofegante - cheguei.

— Kasi, o que aconteceu? - perguntou Vitani.

— Não acredito no que eu estou vendo - começou Shabaha - a Kasi, cansada? Não pode ser real, eu devo ter comido coelho pode de novo.

— Eu corri procurando por vocês em todo o reino - disse a leoa esgotada.

— E por que não nos esperou aqui? - perguntou Tazama.

— Porque isso não podia esperar.

Kasi contou sobre a caverna que ela e Imara haviam descoberto e sobre o que Rafiki havia dito sobre isso. 

— E então, o que vamos fazer? - perguntou Shabaha.

Vitani olhou para Kopa esperando uma resposta, que infelizmente o leão não tinha, e olhou novamente o restante do grupo.

— Bem, podemos tentar falar com Rafiki de novo, ele com certeza sabe quem é esse outro inimigo que teremos de enfrentar, não custa tentar.

Depois de gritarem novamente seu lema, a Guarda do Leão partiu para a nova missão.
As Terras do Reino estavam mais tranquilas do que de costume. Depois da Cúpula da Savana os animais sabiam pelo que esperar e agora que Fahari havia sido expulso, nenhum deles parecia preocupado. Depois de algum tempo andando, o grupo chegou no famoso baobá.

— Está tudo bem quieto - falou Shabaha procurando por algo sinal do primata.

— Rafiki?! - Vitani gritou e foi respondida apenas por um silêncio.

— Talvez ele tenha fugido se ele ficou tão assustado assim - comentou Imara.

— Só há um jeito de ter certeza - falou Shabaha se aproximando da árvore.

— O que você vai fazer? - perguntou Kopa.

— Deixa comigo, eu sei o que eu tô fazendo - falou a leoa cravando as garras na árvore e a escalando - vamos ver se você não está mesmo aí.

— Deveríamos fazer isso? - Kopa perguntou para Vitani.

— Bem, é a Shabaha, acho que ninguém vai conseguir impedi-lá.

— Aí! - gritou a leoa que havia adentrado a copa da árvore.

— Você não pode subir na minha árvore - gritou o mandril dando sinal de sua presença.

A cena a seguir foi simplesmente Shabaha arrastando o primata árvore abaixo com ambos se espatifando no chão.

— Eu disse que ele estava aí - falou Shabaha esfregando a cabeça, que havia sido acertada pelo cajado do mandril, com a pata.

Rafiki estava assustado, desconfiado, ele olhava para todos os lados em busca de algo ou alguém, não se parecia com o mandril que a Guarda do Leão estava acostumada.

— Rafiki, por que você não quis descer agora falar conosco, o que está acontecendo? - perguntou Vitani com o máximo de calma para não assustar mais o mandril.

— Ele vai querer vingança - respondeu Rafiki.

— Quem Rafiki?

— Uzushi!

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Continua...
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Bem, vamos lá. Primeiro, o blog ficou abandonado por um tempo, como vocês devem ter percebido, por que? Porque eu sinceramente não sei, só sei que eu e o Akili decidimos o seguinte, a partir de hoje eu administro o blog e ele a nossa outra plataforma, o Spirit. 

Segundo, nós ficamos um tempo sem escrever, por falta de tempo, idéias e preguiça. Mas parece que agora nós vamos voltar a escrever essa história de vez. 

Essa foi uma grande surpresa não é? (Aproveitem para expressar a alegria nos comentários) Então se tiverem alguma pergunta, sugestão, idéia ou crítica, não deixem de comenta-las. 

Até a próxima!
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Feat. Akili Lion



O Rei Leão - Peças Perdidas - Capítulo 6

Olá caros leitores! Eu sou o novo administrador do blog, Nafasi Lion 😎! Eu devo algumas explicações para vocês, mas primeiro aproveitem dois novos capítulos!

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...

— Esse lugar parece bem grande - comentou Kopa enquanto caminhava junto com Shabaha pela galeria de cavernas.

— É… - Shabaha observou as redondezas - você sabe como voltar não é?

— É claro que sei, vamos encontrar logo essas zebras.

Os dois seguiram vagando pela escuridão. O cheiro da zebras se tornava cada vez mais forte, elas realmente estavam por perto.

(...)

Instantaneamente, Muhimu abriu os olhos e se colocou de pé, juntamente com o resto de seu rebanho, exceto os que não estavam em condições de se esforçar. 
Um estrondo havia os acordado, um escandaloso barulho, vindo da queda de dois leões.

— Bem, parece que o sumidouro fez mais duas... - uma zebra dizia antes de ser interrompida.

— Kopa e Vit... quer dizer Shabaha? - perguntou Muhimu não acreditando que a Guarda do Leão finalmente havia chegado.

Animadas as outras zebras se aproximaram para vê-los.

— Sim, eu acho que somos nós - disse Kopa, tentando se levantar - você tá bem Shabaha?

— Parece que me jogaram da Pedra do Rei - respondeu a leoa soltando gemidos de dor - mas, no geral acho que sim.

— É bom te ver Muhimu, qual é a nossa situação? - perguntou Kopa andando ao que parecia ser uma saída obstruída por rochas.

— Espere, antes de começarmos a bolar um plano genial pra sair daqui, vocês encontraram meu filho com o rebanho do Thurston? - perguntou Muhimu ansiosa por respostas.

Kopa deu um breve sorriso e respondeu:

— Sim, nós o encontramos ontem de manhã.

— Espera, nós já estamos presos aqui há um dia inteirinho? - perguntou uma zebra - Não podemos ficar aqui tanto tempo, aquelas gazelas vão tomar nosso pasto! - completou causando um alvoroço geral.

— Calma pessoal, um problema de cada vez, - respondeu Muhimu, agora mais tranquilizada.

Kopa analisou a situação. Eles haviam caído numa espécie de grande sala, seria impossível escalar de volta. Havia uma passagem, mas que também havia sido soterrada por grandes rochas.

— Essa saída dava aonde? - perguntou Kopa.

— Pela areia aqui no chão, acho que no deserto Qattara - respondeu a líder das zebras.

— E ela é a nossa única opção? 

— Sim, não há nenhum túnel que leve a algum lugar.

— Então só há uma coisa a se fazer - respondeu Kopa.

(...)

Era quase lua cheia e Vitani continuava a percorrer o desfiladeiro com Tazama.

— ... Simba está apenas preocupado Vitani, ele estava nervoso. 

— Eu sei disso, mas nós já deveríamos ter resolvido esses problemas. Somos a Guarda do Leão, se nós não resolvermos, quem vai?

— Vamos resolver, logo ... - Tazama é interrompida por um som familiar.

— Ouviu isso?

As duas ficaram em silêncio esperando repetir. 
Em sua mente Vitani apenas torcia para que não estivesse enlouquecendo. Mas logo o silêncio sufocante foi interrompido por um rugido que Vitani reconheceria em qualquer lugar.

— Kopa! - exclamou Vitani se colocando a correr em direção a origem do som.

Inundada de empolgação, a leoa imaginava que Kopa teria encontrado Muhimu e seu rebanho, afinal, ele não costuma se meter em problemas. Finalmente eles poderiam comemorar por terem solucionado ao menos um de seus diversos problemas.
Guiadas pelo rugido de Kopa e Shabaha as leoas logo encontraram o sistema de cavernas em que os dois estavam presos. 

(...)

— Olá?! - perguntou Kopa, tentando fazer contato com alguém fora caverna.

— Você acha que alguém nos ouviu? - perguntou Shabaha.

— Acho que não, é melhor pensarmos em outra solução. 

— É melhor pensarmos no que iremos fazer quando ficarmos com fom… - cochichava Shabaha antes de ouvirem uma voz conhecida:

— Cuidado! - gritou Tazama impedindo que sua líder se juntasse a Shabaha e Kopa.

— Tazama?! - gritou Kopa.

— Kopa! - exclamou Vitani.

— Sentiram nossa falta? - gritou Shabaha fazendo Vitani revirar os olhos.

— Como vão aí em baixo? - perguntou Tazama.

— Presos - respondeu Muhimu entrando na conversa.

— Muhimu!  É bom te ouvir- falou Vitani rindo - vamos tirar vocês daí.

— Parece haver uma saída aqui embaixo que dá no Deserto Qattara, mas a passagem está bloqueada - disse Kopa.

"Deserto Qattara? Isso vai demorar" pensou Vitani.

— Certo, vamos dar a volta pelo desfiladeiro até chegarmos no deserto.

— Tenham cuidado - falou Kopa antes que as duas partissem.

As leoas deram início a longa caminhada que teriam de enfrentar.

(...)

A noite estava avançada e com o tempo o céu já começava a clarear. Mas Kiara não havia conseguido dormir, estava preocupada com a questão das Terras Profundas. Se os animais não tivessem notícias de onde poderiam encontrar água, a Cúpula da Savana se tornaria uma verdadeira algazarra. Nisso, o instinto real de Kiara falou mais alto. Após hesitar um pouco, se questionando se era o certo a fazer, Kiara voltou a caverna da Pedra do Rei e acordou suas duas amigas que estavam próximas a entrada. 

— Kiara, está muito cedo! O que pode ser mais importante do que uma boa noite de sono? - questionou Zuri.

— Shhh - sibilou Kiara - se você levantar eu vou poder te contar.

Contrariada, a leoa se levantou e se juntou a Tiifu que já havia levantado e não estava muito mais feliz de ter sido acordada.
Após se afastarem da Pedra, Kiara contou para as duas, onde elas iriam e o que fariam.

— Uma missão real então, finalmente um pouco de emoção - falou Tiifu mais animada do que antes.

— E por que você não pede simplesmente para o Kopa e a Vitani fazerem isso? - perguntou Zuri bocejando.

— Eles estão ocupados com outros problemas.

O trio seguiu em meio às pradarias, que aos poucos começava a clarear, antes mesmo do Sol nascer.
Após horas andando em meio a vastidão do deserto de Qattara e com o Sol já começando a esquentar, Tazama e Vitani estavam finalmente chegando ao seu destino, a entrada da caverna que estava obstruída por rochas.

— Ali - falou Tazama ofegante, ao observar um amontoado de pedras - deve ser a entrada.

— Tem que ser - cochichou Vitani para si mesma.

As duas leoas pararam em frente as grandes rochas.

— Kopa?! - gritou a líder da Guarda em busca de seu leão.

— Vitani!

— Bem, é aqui - falou Tazama - e agora?

Mesmo não tendo certeza, Vitani tinha uma ideia em mente.
A leoa andou em círculos por alguns segundos em busca de outra solução mas todas a levavam a ideia original. “Bem, é isso, tem que dar certo” pensou a leoa.

— Kopa, tire todos de perto da entrada.

Kopa e as zebras se afastaram o máximo que puderam.

— Pronto - respondeu o leão ao ver que não conseguiriam se afastar mais.

Vitani olhou para Tazama que havia entendido qual a idéia da amiga e assentiu com a cabeça mostrando que a apoiava.
O plano era arriscado, usar o rugido para remover as pedras da entrada, mas com cuidado para não ferir nenhum dos animais que estavam alí dentro.
Vitani se colocou em frente das grandes rochas e cravou as patas na areia. Inconscientemente, a leoa se lembrou de quando rugira no desfiladeiro de Haat e acabou machucando Kasi. Sua respiração começou a ficar ofegante e uma ansiedade tomou conta da líder da Guarda do Leão. Mas não havia outra opção, tinha que dar certo.
De repente o vento soprou, as nuvens se transformaram em retratos dos grandes reis do passado e um poderoso rugido ecoou no deserto. Um rugido poderoso mas não descontrolado.
As rochas rolaram abaixo e uma nuvem de poeira se formou.
Imediatamente Vitani deu fim ao rugido e sem perder tempo correu até o topo do pequeno amontoado de pedras que havia restado.

— Estão bem? - perguntou a leoa tentando ver meio a poeira.

— Finalmente luz - falou Shabaha tossindo por causa da poeira.

— Estamos - falou Muhimu.

Aliviada, Vitani correu até Kopa e o abraçou. O leão retribuiu o abraçou enquanto olhava para a leoa com um sorriso engraçado.

— O que foi? - perguntou Vitani ao notar a expressão do companheiro.

— Parece que eu ganhei.

— É sério que você quer falar disso? - respondeu a leoa - se não fosse por mim e Tazama vocês ainda estariam ali dentro.

— Tá bom, tá bom - aceitou Kopa - empate então - falou recebendo apenas um olhar de reprovação cômico da companheira.

Após verificarem se todos estavam mesmo bem, o grupo começou a andar de volta para às pradarias.

— Onde estão Kasi e Imara? - perguntou Kopa.

— Não às vemos desde ontem a noite - respondeu Tazama.

— Elas devem ter voltado para covil - disse Vitani.

(...)

— O cheiro acaba aqui - falou Kasi.

As duas leoas haviam seguido o odor por um bom tempo até o meio de uma densa floresta.

— Não consigo ver nada e nem ninguém - falou Imara olhando ao redor - acho melhor voltarmos, Kopa ou Vitani podem ter tido mais...

— Calma - adverteu Kasi interrompendo Imara - acho que encontrei alguma coisa.

A leoa, guiada por seu olfato, andou em direção a algumas trepadeiras que cobriam a entrada de uma caverna.

— Parece que alguém mora aqui - falou Imara investigando a caverna vazia - e esses objetos, se parecem com os que Rafiki tem lá no seu baobá.

— Talvez ele saiba quem estava no Bosque...

De repente, algo interrompe a investigação, um rugido.

— Você ouviu? - pergunta Imara.

— Sim!

As duas leoas saem da caverna em direção ao ponto de encontro, a Pedra do Rei, sem notar que eram observadas.

— O que faremos agora? Rafiki pode se lembrar de você - falou Fahari para Uzushi que observava atentamente as leoas enquanto se afastavam.

— Rafiki não se lembra de mim, ou pelo menos vai fingir que não.

— É bom que não se lembre mesmo - ameaçando Niko encarando o primata.

— Eu falei que ele não vai lembrar - falou o primata aumentando seu tom e se virando para o guepardo, agora empunhando seu tridente.

— Parem com isso! Estamos perdendo tempo, temos trabalho a fazer - falou o leão separando os dois.

(...)

— Já estamos andando há horas Kiara - reclamou Zuri enquanto observava o seu redor - você sabe mesmo onde estamos?

— Estamos perto - disse a princesa - só temos que encontrar Dahabu agora.

 O trio vagava em meio às árvores que formavam aquela floresta entre às pradarias. O ambiente havia se tornado escuro por causa das grandes árvores e de repente, o silêncio tomou conta do ambiente fazendo com que as leoas parassem e se entreolhassem. De repente a movimentação de uma moita chama atenção das três, que após hesitarem por um momento, decidem se aproximar da tal moita. 

— Te peguei!

— Aii! - exclamou Zuri ao ser derrubada no chão.

— Me desculpe - disse a zebra que havia acabado de derrubar a leoa - pensei que você fosse uma zebra.

— Por acaso eu me pareço com uma?Agora meu pelo está todo sujo - resmunga Zuri - Kiara?!

— Foi um acidente Zuri - responde a princesa que recebe apenas um resmungo como resposta da leoa - será que você pode nos ajudar amiga? Estamos procurando por Dahabu - perguntou para zebra.

— Claro que posso - disse a zebra animada - vamos, vou levá-las até ela.

(...)

O grupo formado por Vitani, Kopa, Shabaha, Tazama e às zebras recém encontradas continuava a cruzar o árido deserto Qattara. O sol estava no seu ápice e os castigava cruelmente. Com o tempo os já era possível ouvir os animais murmurando e reclamando por água e comida.
Os leões queriam andar mais rápido, mas estavam sendo retardados pelas zebras.

— Nesse ritmo chegaremos atrasados na Cúpula da Savana - comentou Vitani.

— Kasi e Imara já devem ter chegado, elas podem cuidar das coisas até chegarmos. - respondeu Kopa.

— Espero que si... - Vitani é interrompida por um grito de desespero.

— Corrida em pânico! - gritou uma zebra no final do grupo seguida de um rugido.

— Só faltava essa - exclamou Tazama.

O que se seguiu foi um caos generalizado, zebras correndo em pânico e a Guarda do Leão procurando pela origem daquele rugido em meio a poeira que havia se levantando. Enquanto a poeira baixava foi possível ver a silhueta do felino assassino que não parecia tentar fugir, estava imóvel, como se quisesse ser visto. Finalmente a nuvem se desfez e foi possível ver o rosto do leão.

— Olá Kopa, sentiu saudades? - perguntou Fahari.

— Fahari - disse Kopa em um tom de raiva ao ouvir as palavras do velho companheiro de guerra - então foi você quem matou todos aqueles animais sem motivo algum.

— Eu estava apenas me divertindo - falou de forma debochada - e se me lembro bem Kopa, você também gostava de se “divertir” antes de amolecer. Não foi você quem disse que "nós leões somos os animais supremos deste mundo e não precisamos obedecer a ninguém".

— Eu mudei Fahari, e você ainda pode mudar.

— Eu prefiro morrer do que me juntar a um traidor e a uma leoa qualquer.

— Kopa... - tentou falar Vitani ao notar o semblante do leão se enfurecer.

— Ela não é uma leoa qualquer!

— Kopa, por favor, qual a diferença dela para qualquer outra das várias leoas que “nós”  matamos em nossas guerras com outros reinos? Talvez ela seja 
apenas um pouco mais ingênua de acreditar que o assassino Kopa possa mudar.

A fúria domina Kopa nesse momento e o leão se atira contra Fahari o jogando contra o chão. Rugidos e rosnados são ouvidos enquanto Kopa desfere patadas e arranhões contra o leão.
Sem condições de se defender e com o rosto ensanguentado, Fahari parece não ter saída. Kopa para por um momento e observa o leão debaixo dele.

— Vamos Kopa - diz Fahari em meio tossidos - o que está esperando, me mate logo e mostre quem é o verdadeiro assassino.

Kopa, ainda enfurecido olha para trás e vê Vitani que balança a cabeça como que pedindo para que ele não faça isso. O leão respira e por fim saí de cima de seu adversário.

— Vá embora Fahari - Kopa ordenou - e não pise nunca, NUNCA mais nesse reino. Eu te garanto que se te ver aqui de novo, não terei a mesma compaixão de agora.

Com o rosto manchado de sangue, o leão encarou Kopa por uma última vez e saiu em meio ao deserto.
Vitani correu até Kopa para ver como o leão estava.

— Você está bem?

— Estou, apenas mancando um pouco. Eu fiz o certo?

— Claro que fez - disse Vitani abraçando seu leão.

— É... - falou Shabaha ainda empolgada com a batalha que havia visto - parece que vencemos não é?

(...)

— Pelos ancestrais, onde eles se meteram? - Kovu se perguntoum sem qualquer sinal da Guarda do Leão.

O leão já estava no Bosque Mizimu e faltava pouco para a reunião. De repente um pássaro conhecido atravessa o céu na direção de Kovu.

— Zazu, você não sabe como fico feliz em te ver, alguma boa notícia?

— Receio que não alteza. Nenhum sinal de Kiara ou da Guarda do Leão e o Rei Simba avisou que ocorreu um imprevisto no Mashindano dos rinocerontes, por isso ele vai demorar um pouco mais do que o combinado... -
Enquanto Zazu falava, duas leoas conhecidas entraram em cena.

— Kasi, Imara! Finalmente uma boa notícia! - suspirou o leão - Como foram as coisas nas Terras Profundas? Onde está o resto da Guarda?

As duas leoas se entreolharam.

— Pensamos que estivessem aqui - respondeu Imara.

Kovu não entendeu muito bem a situação, mas não havia nada que o moreno pudesse fazer agora, a Cúpula da Savana estava prestes a começar.
“Bem, parece que eu estou sozinho nessa” Kovu disse para si mesmo, “respira Kovu”. O leão subiu em uma pedra que ficava de frente para todos os animais.

— Animais da Cúpula da Savana - anunciou o príncipe em alta voz - eu declaro que esta reunião está iniciada.

Os animais encararam Kovu por alguns segundos estranhando a ausência de Simba mas continuaram. Logo, as questões começaram a surgir e, como de costume, algumas delas fizeram com que os animais se alterassem e acabassem elevando o tom.

— Nós não vamos tomar água com sangue do Olho D'água - disse a líder das gazelas - porque não podemos ir até o Olho D'água de Dahabu?

— A Guarda do Leão está cuidando disso... - tentou dizer Kopa.

— Nós não podemos andar até às Terras Profundas - retrucou Twinga, a líder das girafas - até chegarmos lá já vamos ter morrido de sede.

— Nós podemos...

— Vai me dizer que vocês, girafas, não podem andar por alguns minutos para tomar água? - alfinetou Makuu.

— Não podemos e não queremos.

— Então não bebam água, simples, próxima questão - respondeu Makuu de maneira ríspida.

Após o comentário do crocodilo, uma discussão acalorada começou. Kovu apenas os observava sem saber o que fazer. O leão então olha para o lado e uma visão o tranquiliza.

— Kiara - disse o leão caminhando até a companheira - graças aos ancestrais. Está tudo bem? Você desapareceu.

— Nós estávamos resolvendo o problema da água com Dahabu e ela está disposta a dividir seu Olho D'água - falou a princesa de maneira tranquila - e aqui, o que está acontecendo? Porque essa discussão?

— Alguns animais não querem andar até às Terras Profundas para tomar água.

— Hum - Kiara pensou por algum tempo e então rugiu trazendo a atenção para si.

Os animais ficaram em silêncio e escutaram o que a princesa tinha para dizer.

— Porque essa discussão? - a leoa perguntou dando a entender que não sabia o motivo.

— Nós não vamos andar toda manhã até às Terras Profundas para beber água - Twinga explicou - e muito menos beber água daquele Olho D'água ensanguentado.

—  E porque só essas duas opções? - a leoa questionou - não existe água só nesses dois lugares, o reino tem muitos outros Olhos D'água menores. Quem não quiser andar pode ficar aqui.

Os animais começaram a conversar entre si. Logo o barulho diminuiu e os ânimos se acalmaram. A Cúpula seguiu até que finalmente, às questões acabaram.

— Bem, parece que no fim tudo deu certo - falou Simba que havia chegado já no final da reunião.

— Kovu deu conta - Kiara disse olhando para o moreno.

— Eu tive uma ajudinha - o leão respondeu - E o mashindano dos rinocerontes Simba?

— Kifaru e Ajali lutaram pelo posto de líder dos rinocerontes - começou a dizer o rei - e Ajali acabou derrotando Kifaru.

— E isso é bom? - perguntou o moreno.

— Saberemos com o tempo, de qualquer forma, Ajali é o novo líder dos rinocerontes.

Enquanto conversavam Kiara avistou um grupo no horizonte.
Ao ver os leões no palco da Cúpula da Savana, Vitani finalmente se lembrou da tarefa da qual havia sido encarregada.  Um calafrio eriçou o seu pelo, sua vontade foi de correr para longe dali.

— Parece que nós acabamos nos esquecendo de algo - a leoa falou alertando seu grupo para a possível bronca que estava por vir.

Torcendo para que a Cúpula não tivesse se tornado um completo caos sem notícias de água e se preparando para enfrentar as consequências, Vitani junto com Kopa que ainda mancava um pouco por causa do combate, Shabaha e Tazama, se aproximou da família real.

— Vitani, o que aconteceu? - perguntou o irmão da leoa - Está tudo bem?

— Está sim, nós finalmente encontramos as zebras perdidas, estavam próximas ao Deserto Qattara. Enquanto voltavamos acabamos encontrando o assassino misterioso e Kopa o expulsou para longe das Terras do Reino. E a Cúpula da Savana - disse a leoa tentando esconder o nervosismo - como foi?

— Bem… - disse Kiara causando o leve suspense - podemos dizer que Kovu deu conta - completou rindo.

— Ahh… - falou a líder da Guarda do Leão escondendo sua surpresa com a resposta.

— Eu não estava sozinho - comentou o moreno olhando para Kiara.

— Parece que esse leão misterioso deu trabalho para vocês - falou Simba entrando na conversa.

— Um pouco - comentou Kopa olhando para a pata que estava fazendo ele mancar - mas nada que nós não déssemos conta.

Os tons alaranjados do céu já começavam a dar espaço para o profundo azul da noite. Após alguns minutos conversando, a Guarda do Leão se retirou dali.

— Parece que estamos livres por hoje pessoal - Vitani disse ao seu grupo - podem descansar. Amanhã será mais um longo dia.

O grupo se dividiu. Shabaha, Tazama e Imara foram em direção a Pedra do Rei, Kasi disse que precisava resolver alguns assuntos e saiu em meio às pradarias deixando Kopa e Vitani sozinhos. Os dois se sentaram na grama baixa e começaram a observar o céu estrelado enquanto a brisa gélida da noite acariciava seus rostos.

— Finalmente um pouco de paz - falou Vitani respirando fundo o ar úmido da noite.

— É... - respondeu o leão - foi um longo dia.

— Pelo menos, agora que você expulsou Fahari, vamos ter um tempo para relaxar e poderemos ir atrás do Zamani e da Tibra.

— Sim...

Os dois leões estavam deitados na grama um ao lado do outro. A conversa continuou descontraída até que um repentino silêncio surgiu. Por um tempo o silêncio permaneceu e o casal continuou ali, imersos no profundo azul marinho do céu.

— Foi estranho... - o leão comentou, atraindo a atenção de Vitani - ver Fahari novamente. Me fez lembrar tudo o que eu passei antes de vir para cá.

— Você sabe que nada do que aconteceu antes de você voltar para as Terras do Reino foi culpa sua não é?

— Eu sei mas... tem muitas coisas que aconteceram lá que eu nunca conseguirei esquecer.

— Se achar que vai te fazer melhor - falou a leoa - você pode dividir esse peso comigo.

— Tenho medo de que você não me olhe mais do mesmo jeito se te contar.

Vitani se aproximou de seu companheiro e lambeu sua bochecha.

— Não importa o que aconteça - a leoa falou enquanto se deitava sobre o peito de Kopa - eu não vou deixar de te ver como a melhor coisa que aconteceu em minha vida Kopa.











O Rei Leão - Peças Perdidas - Capítulo 8

... Era uma vez, não há muito tempo, numa floresta não muito longe das Terras do Reino, um pequeno mandril. Seu nome era Uzushi. Esse pequen...