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domingo, 31 de maio de 2020

O Rei Leão - O Retorno de Kopa - Capítulo 3

...
Era entre o meio-dia e o nascer-do-sol quando a guarda de Vitani chegava aos limites do reino, em direção a árvore da vida. Lá fizeram uma pausa e ficaram em baixo de um baoba que expunha sua sombra generosamente.

— Já pensaram no que vamos comer? - disse Imara inquieta afiando as suas garras no baoba.

— De tudo - disse Vitani, assumindo um tom orgulhoso - eramos exiladas não se  lembram?

— É difícil de esquecer... - Kasi disse enquanto se lembrou do passado nas Terras Sombrias - Mas, se tem algo que aprendemos de bom no Exílio foi nos virar.

— Exatamente, comiamos qualquer coisa - disse Tazama.

— Insetos, folhas, frutas e os mais variados tipos de caça - Disse Vitani animada.

— Por falar nisso, não me lembro de ja ter comido grama - falou Shabaha enquanto olhou para a grama e lambeu os lábios.

Sem pensar muito, Shabaha abocanhou um punhado de grama e terra e se arrependeu após ela arder sua garganta, depois elas seguiram viagem, contornando as fronteiras das Terras do Reino, pois lá não havia a possibilidade de que algum animal pudesse entregar a missão.
O tempo passava rápido pois a conversa corria livremente. No meio do dia as leoas já estavam a leste da Pedra do Rei. Havia nervosismo no ar. Nenhuma delas jamais tinha ido tão longe em toda a vida.

— Vamos lá - aconselhou Tazama - não podemos nos dar ao luxo de sermos vistas por aqui.

— Bem lembrado Tazama - disse Shabaha ultrapassando o limite com entusiasmo que parecia concreto como um muro para a guarda.

"Precisamos encontra-lo" Vitani pensou, e logo ela se encheu de determinação, balançou cabeça, arrumou seu topete e seguiu em frente.
Quando viram o olhar determinado da líder não recuaram mais, Kasi saiu na frente, passando por Shabaha que estava esperando suas companheiras. Então todas seguiram caminho para leste.
Após algumas horas o ambiente começava a mudar, o ar deixava de ser seco, para se tornar um pouco mais úmido, as planices com que estavam acostumadas, lentamente iam dando lugar para uma densa floresta, quando se deram conta já haviam deixado para trás o que conheciam. Fizeram outra pausa antes de submergirem dentro da densa floresta que os aguardava. Suas barrigas rugiam de fome.

— Vitani! Estamos com fome - reclamou Shabaha.

— Não se preucupe Shabaha, haverão muitas frutas aqui, elas são bem melhores do que aquela sua grama - disse Kasi, fazendo o grupo dar risada.

— Bem, realmente estamos com fome Vitani - disse Tazama para sua líder.

— Tudo bem, tudo bem - falou Vitani cansada de ouvir reclamações - vamos armar uma emboscada.

— Isso! - exclamou Shabaha.

E lá foram as leoas em busca de uma presa. Após alguns minutos andando a paisagem da floresta começava tomar conta, de repente ouvem um som familiar, um gnu, solitário, apenas ele, um grande e belo gnu. Vitani e as outras leoas se prepararam para encurrala-lo, deixando apenas Kasi para trás, responsável por correr atrás da presa. A adrenalina de Kasi começava a aumentar, era possível ouvir seu coração batendo, o silêncio era total, Kasi espera o momento e dispara contra a presa que corre como se não houvesse amanhã, o silêncio de antes se tornou num misto de sons. O gnu tenta escapar, mas para onde quer que vá encontra uma das leoas. Kasi sente que o momento de dar o bote final em sua presa chegou, ela se prepara, se inclina, e tropeça antes mesmo de poder gritar: "Haraka, haraka!"*, tropeça e sofre uma queda majestosa a mais de 70 km/h, nisso Imara surge, toma o lugar de Kasi e executa um golpe mortal em sua presa. 

Após se certificar que a presa estava garantida Vitani correu até Kasi, que ainda estava caida no chão.

— Você está bem? — perguntou Vitani preocupada.

— Isso depende, pegamos ele — perguntou Kasi ainda se recompondo.

— Pegamos - afirmou Vitani.

— Então estou melhor.

Então Tazama e Imara também foram até Kasi, deixando Shabaha que fez questão de vigiar a caça.

Depois de comerem, perceberam que já estava anoitecendo, então decidiram passar a noite ali. Encontraram um local para descansar e ficou decidido que Tazama iria fazer o primeiro turno de vigia.
Anoiteceu. Tazama cumpriu seu turno, que passou tranquilamente. Quando chegou o turno de Vitani ela despertou facilmente, como se nem estivesse dormindo.

— Como foi Tazama? - Perguntou Vitani ainda bocejando.

— Foi tranquilo, algumas movimentações estranhas aqui e alí, nada de mais - Disse Tazama.

— Cobras talvez? - Perguntou Vitani olhando para as gramíneas meio altas.

— Tomara que não - Tazama olhou a oeste, pensativa - Vitani, você pensou no que Rafiki disse? Sobre aquele... Haat? 

— Não muito... - Vitani olhou para a guarda que dormia - mas o que quer que haja lá nós podemos enfrentar juntas Tazama -  disse Vitani com um tom orgulhoso.

— Nunca gostei de substimar algo... 

— Tomaremos cuidado, como dissemos ao Rafiki.

Após terem terminado de conversar Tazama foi descansar. E a noite se seguiu tranquila.
O dia amanheceu e Kasi que fazia o último turno, despertou suas companheiras. 
Quando acordaram viram o espetáculo, uma neblina tomava todo o ambiente muito diferente das Terras do Reino. O sol difuso no meio da névoa ainda tinha seu brilho bloqueado por algumas nuvens cinzentas.

— Com certeza estamos bem longe de casa - Disse Imara sacudindo seu corpo molhado com a água do intenso orvalho.

— Estamos mesmo - disse Vitani enquanto arrumava seu topete que se desfez por causa do orvalho - mas ainda não chegamos em nosso destino.

Assim a Guarda continuou sua jornada ao reino de Haat. A transição aos poucos acabou e elas estavam embaixo da floresta tropical, era difícil saber o período do dia pois pouca luz chegava ao chão, e menos ainda o azul do céu. Sapos, rãs e muitos insetos era o que se podia ouvir. O ar cada vez mais abafado e as pegadas de felinos cada vez mais frequentes. As leoas seguem viajem, até que se deparam com algo, ou melhor, alguém. Um leopardo que parecia estar no meio de uma refeição. A Guarda então decide falar com ele, afinal, sem a luz do Sol era impossível descobrir em qual direção deveriam ir, mas antes que dissessem qualquer coisa o felino parece perceber a presença delas, e de repente ele para de comer.

— Estão perdidas? - pergunta o felino desconhecido.

— Como você sabe? - perguntou Shabaha que logo em seguida levou uma bronca de Vitani.

— Não é muito comum encontrar leões por aqui.

— Por aqui? E quem manda por aqui? - perguntou Vitani.

— Ninguém. Essa uma terra sem dono, cada bicho cuida de seu próprio rabo. Ah propósito, vocês estão na minha área.

— Sua área? E quem é você? - perguntou Kasi.

— Sim, minha área - Disse ele com uma risada - e eu me chamo Wanzo. E vocês quem são?

— Eu sou Vitani e nós somos a Guarda do Leão - disse Vitani orgulhosa de seu grupo.

— E o que vocês fazem aqui Guarda do Leão?

— Estamos de passagem, poderia nos dizer para onde fica o leste?

— Leste? - perguntou Wanzo hesitando um pouco e em seguida apontando com o fucinho para onde elas deveriam ir.

Logo em seguida ele perguntou:

— Vocês tem certeza de que sabem onde querem ir? 

— Temos - falou Shabaha se adiantando novamente - estamos indo para o Reino de Haat.

— Ah... certo... tudo bem, foi prazer conhecê-las, boa sorte - disse Wanzo se retirando pasmo com o que a Guarda havia e dito.

E as leoas seguiram na direção em que Wanzo apontará. Enquanto caminhavam Tazama foi falar com Vitani:

— Vitani, você não achou o Wanzo um pouco estranho?

— Tudo aqui é novo e estranho para nós Tazama - falou Vitani olhando a sua volta.

— Não desse jeito... - Tazama fez uma breve pausa - O jeito que ele reagiu quando falamos sobre Haat.

— É, Haat parece ser bem conhecido por aqui, mas temos a vantagem - Vitani lança um olhar para Tazama esperando que ela completasse a frase - o rugido - disse Vitani com entusiasmo.

— Não sabemos o que vamos encontrar lá, temos que estar preparadas - disse Tazama num tom sério.

— Nós estaremos preparadas.

Vitani e Tazama então se aproximaram de novo do grupo.
Elas seguiram viajem até encontrarem uma clareira e como já anoitecia, decidiram ficar por ali até o amanhecer. A noite estava mais escura do que nunca, afinal elas estavam em meio a uma densa floresta e o som dos animais noturnos era quase que irritante. Sem conseguir dormir, restava a elas apenas esperar o nascer do Sol e seguir viagem.
O dia amanheceu e lá foram as leoas rumo ao seu destino. Após andarem um pouco, elas finalmente conseguiram ver uma saída da floresta, vagarosamente a paisagem ia mudando e as grandes árvores tonavam-se meras gramíneas.
O meio do dia se aproximava, as leoas já haviam se alimentado e o destino parecia nunca chegar.

— Será que esse tal Reino de Haat realmente existe? - falou Kasi cansada de andar.

— Claro que existe! - afirmou Vitani como se já conseguisse ver o destino.

— Se ele existir com certeza estamos mais perto do que nunca - disse Shabaha num tom meio duvidoso.

— Ele existe - disse Vitani novamente.

E continuaram caminhando. Com o tempo até mesmo Vitani começava a duvidar da existência desse Reino de Haat, dizia para si mesma que o reino existia, que tinha que existir. 
O olhar das leoas se perdia na imensidão daquele lugar até que de repente se deparam com algo, um desfiladeiro, tão grande que era impossível conseguir ver seu fim.

— Vamos lá, o que estão esperando? - diz Vitani determinada.

— Tem certeza Vitani? - pergunta Tazama insegura - nem sabemos o que tem lá em baixo, não é melhor darmos a volta?

— Tenho, já perdemos tempo demais dando voltas, está na hora de ganharmos tempo e não de ter medo de um desfiladeirinho.

A Guarda fica em silêncio e obedece.
Vitani e sua equipe continuam seguindo pelo desfiladeiro. As paredes altas e ingrimes tornavam impossível ver o que existia a sua volta. De repente uma forte chuva as atinge, tão forte que torna impossível que elas continuem.

— Vitani, está muito forte, vamos esperar a chuva passar - grita Kasi ensopada.

— Não, não podemos parar agora, vou tentar fazer algo que aprendi.

Então Vitani usa seu rugido contra as nuvens, tentando expulsar a tempestade e consegue, mas acaba atingindo a parede do desfiladeiro e gerando um desmoronamento. As leoas correm para sair do caminho das rochas, mas Kasi fica presa debaixo das rochas.

— Hiyo kali! — Diz Tazama assustada olhando para a muralha que se formou — Kasi!!! - gritou logo em seguida desesperada não vendo ela.

— Estou bem - respondeu Kasi com sua voz abafada pelas pedras.

— Vamos, temos que tirá-la daqui - disse Imara.

Enquanto as leoas faziam de tudo para tirar Kasi de baixo das pedras, escutam um rugido ensurdecedor. Quando se viram a direção de onde vinha o som veem um leão, acompanhado de um grupo de outros 4 leões.

— Vocês não deveriam estar aqui! - gritou o leão desconhecido.

— E quem é você? - perguntou Vitani irritada.

— Eu sou Kopa! Herdeiro do trono de Haat!
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Continua...
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Todos os créditos aos criadores das imagens.
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Bem galera, esse foi o terceiro capítulo, e aí o que acharam? Comentem. Kopa, um príncipe em, quem diria. Não deixem de seguir a página caso estejam gostando 😉 O capítulo 4 sai dia 03/06. Até mais!
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*Observações*

"Haraka, haraka" é a frase de efeito de Kasi, que significa "muito rapido".

"Hiyo kali" é a frase de efeito de Tazama, que significa "isso é terrível".
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Feat. Nafasi Lion

5 comentários:

  1. No começo,eu achava que Kopa Vivia no reino de Haat para ajudar os mais fracos,mas quando eu li "herdeiro do trono de Haat!" Eu estou começando a me perguntar se ele é maligno também,afinal,pelo oq parece os animais tem medo desse reino O-o

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  2. É verdade, vamos ver o que acontece 👀
    Obrigado por ler e comentar!

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  3. É assustador o quão longe a Guarda do Leão teve que viajar para encontrar esse reino e no final, não encontram apenas o reino, mas o Kopa instantaneamente. Incrível akkska

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    1. O Rafiki não erra 😂 Obrigado por comentar, não deixe de ler os próximos.

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  4. Uhhhhh enfim o ruivinho apareceu, pensei que ele seria um habitante do reino, maaas, o herdeiro? Isso tá ficando cada vez melhor 😂

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